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Em um planeta estrangeiro, num tempo
distante, existiam dois países chamados Aqui e Ali. Também tinham
outros países, como a Porta ao Lado e Distante, porem esta estória
é sobre Aqui e Ali. Um dia, o Todo Poderoso De Aqui fez um
discurso aos seus cidadãos. Ele disse que a nação Aqui estava
sofrendo pressão da nação Ali e que os Aquilienses não
poderiam simplesmente sentar na ociosidade assistindo a nação
Ali ultrapassando as fronteiras para empurrar e confinar a nação
Aqui. " Eles estão situados tão perto de nós que não
temos mais espaço para respirar", esbravejou ele. Nós
estamos tão apertados que mal podemos nos mover. Eles não estão
preparados para mover nem um centímetro para nos dar algum espaço a
mais que possa nos garantir um pouco mais de liberdade de movimento.
Se eles não quiserem fazer ao menos esse pequeno gesto por nós,
então, teremos que forçá-los a isso. Nós não queremos guerra.
Se dependesse de nós, a paz seria eterna. Mas temo que
isso não nos cabe. Se eles não estão preparados para mover um
pouco com o seu país, então eles irão nos forcar a entrar em
guerra. Nós, no entanto, não iremos permitir que eles
nos pressionem para a guerra. Nós não! Não iremos permitir que
eles nos forcem a sacrificar nossos filhos sem sentido, que nossas
mulheres fiquem viúvas e que nossas crianças fiquem
órfãs! É por isso que precisamos quebrar o poder de Ali antes que
eles nos forcem a começar a guerra. E é por isso, estimados
cidadãos, em ordem para que possamos nos defender, no sentido de
proteger a paz e salvar nossas crianças, Eu declaro formalmente a
guerra com a nação Ali. Os confusos Aquilienses
primeiro olharam uns aos outros, depois olharam ao Todo Poderoso e em
seguida, olharam para as tropas especiais da policia que ostentavam
capacetes e lasers exterminadores. Eles estavam posicionados em torno
da praça da cidade e aplaudiam entusiasticamente, entoando: "Vida
longa ao Todo Poderoso! Acabem com os De Ali"! E a guerra
começou. Naquele mesmo dia, o exército dos De Aqui cruzou a
fronteira. Foi uma visão poderosa. Os veículos blindados
pareciam dragões de ferro gigantes. Eles esmagavam tudo que aparecia
no caminho. Eles poderiam disparar granadas de seus acanhoes e
destrocar tudo, também poderiam arrojar gases venenosos
para aniquilar a todos. Cada um deixou atrás de si 100 metros
de zona morta. Em sua frente deslumbrava uma bonita floresta verde
e atrás deles, nada permanecia. Por onde os aviões voavam
o céu ficava escuro e as pessoas que estavam embaixo caiam com
seus rostos, o barulho enchia a todos de terror e onde as
sombras caiam, também caiam as bombas. Entre os aviões gigantes
no céu e os veículos blindados na terra, enxames de helicópteros
zumbiam como pequenos e perversos mosquitos. Os soldados, no
entanto pareciam robôs de aço de guerra com seus trajes
blindados, o que os faziam invulneráveis às balas, gás, venenos e
bactérias. Em suas mãos eles carregavam pesadas armas de
combates individuais que poderiam espalhar cargas mortais ou raios
lasers que derretiam tudo em seus caminhos. E foi assim que o
imparável exército De Aqui avançava, com a intenção de
esmagar impiedosamente o inimigo. Estranhamente, porém, eles não
encontraram inimigos. No primeiro dia o exército avançou dez
quilômetros dentro do território inimigo, no segundo dia, vinte. No
terceiro dia eles cruzaram o grande rio. Em todos os lugares eles
encontraram vilas abandonadas, campos a serem colhidos, fábricas
desertas e lojas vazias. "Eles estão escondidos e quando nós
os ultrapassarmos, eles nos atacarão por trás"! Gritou o Todo
Poderoso. "Vasculhem todos os palheiros e todos os montes de
estrume "! Os soldados revistaram as pilhas de
estrume, mas a única coisa que encontraram nesse processo foram
pilhas de papeis de identificação: carteiras de motorista,
certidões de nascimentos, passaportes, retratos, registros
escolares, recibos de pagamentos de licença para cães e tevê a
cabo e centenas de outros documentos. As fotografias tinham
sido arrancadas dos documentos que exigiam fotos de identificação.
Ninguém foi capaz de explicar o que isso significava. Um grande
problema encontrado foi relacionado aos sinais de direções nas
estradas. Alguns foram puxados para cima, outros virados para a
direção errada e outros foram repintados. Alguns, no entanto,
estavam corretos porem as tropas não poderiam confiar se
estavam ou não erradas. Os soldados continuavam se perdendo,
companhias inteiras foram incapazes de encontrar seus
caminhos, divisões se perderam e muitos praguejaram contra um
general desertor. Motoqueiros foram enviados em todas as direções
para que procurassem pelos seus soldados. O Todo Poderoso precisou
convocar topógrafos e professores de geografia para que o país
conquistado pudesse ser corretamente mapeado. No quarto dia da
campanha os soldados De Aqui pegaram o seu primeiro prisioneiro. Ele
não era um soldado e sim um civil que havia sido encontrado num
bosque carregando um cesto de cogumelos sobre os ombros. O Todo
Poderoso ordenou que o homem fosse levado pessoalmente até ele
para um interrogatório. O prisioneiro disse que o seu nome era John
Smith e que a sua profissão era a de colhedor de cogumelos. Ele
disse que havia perdido a sua identidade e não sabia onde estava o
exército De Ali. Nos próximos dias, o exército De Aqui prendeu
vários milhares de civis. Todos eles foram chamados de John ou Jane
Smith e nenhum deles tinha quaisquer documentos de identidade. O Todo
Poderoso espumava de raiva. Finalmente, o exército De Aqui ocupou
a primeira grande cidade. Em todos os lugares poderia se ver soldados
pintando os nomes das ruas nos muros. Eles tinham recebido do serviço
secreto os mapas das cidades. É claro que, em decorrência
da pressa ocorreram muitos erros e algumas ruas tiveram nomes
diferentes colocados no lado direito da rua, outro no
lado esquerdo, outro no começo e mais um no final. Companhias
de soldados ficavam constantemente vagando sem rumo pela cidade, na
frente deles, um sargento esbravejando com o mapa da cidade nas
mãos. De um modo geral, nada funcionava na cidade. A companhia de
energia não estava em operação e nem a companhia de gás ou
telefone. Nada funcionava. O Todo Poderoso imediatamente anunciou
que fazer greve estava proibido e que todos precisavam ir para o
trabalho sem atraso. E as pessoas foram para as fábricas e
escritórios, mas ainda assim, nada funcionava. Quando os soldados
foram aos locais de trabalho e perguntaram, “por que ninguém está
trabalhando aqui"? As pessoas respondiam: "o engenheiro não
está aqui" ou "o responsável técnico não está
aqui" ou, ainda "a Senhora Fulana, a diretora não está
aqui". Mas como a Senhora Fulana, a diretora poderia ser
encontrada se toda mulher era chamada Jane Smith? O Todo Poderoso
anunciou que iria mandar atirar em todo aquele que não usasse o seu
nome verdadeiro. Então, os De Ali não mais se chamavam Smith e sim
usaram os nomes antigos, mas o que de bom isso poderia trazer?
Quanto mais o exército avançava no país tudo ia ficando mais
difícil. Em breve eles não seriam mais capazes de proporcionar
quaisquer alimentos frescos para os soldados: teriam que trazer tudo
De Aqui. A estrada de ferro não funcionava e os ferroviários ou
estavam parados ou conduziam com negligencia as máquinas de lá pra
cá. Os condutores não conseguiam decidir quem seria o encarregado
de cada trem e naturalmente, todos os chefes que sabiam como as
coisas funcionavam simplesmente desapareceram. Ninguém pode
encontrá-los. Ninguém fez nada que pudesse machucar os soldados.
Sendo assim, logo, logo eles se tornaram descuidados, caminhando com
os visores de seus capacetes blindados abertos e conversando com a
população. E a população De Ali, que estava escondendo
todos os comestíveis para que o exército não confiscasse, começou
a dividir a pouca comida que tinham com os soldados ou,
trocavam saladas frescas ou bolos caseiros por comida enlatada. Os
soldados tinham bastante comida enlatada e já estavam doentes e
cansados disso. Quando o Todo Poderoso descobriu sobre isso,
ele se encheu de cólera, quase espumando pela boca, determinou então
uma ordem proibindo os soldados de deixarem seus quarteis, exceto
para fazer as patrulhas com as unidades. Os soldados não gostaram
nem um pouco disso. Finalmente o exército ocupou a capital De
Ali. Ali porem, tudo parecia como em qualquer outro lugar do país.
Não havia sinais nas ruas, nem números nas casas muito menos os
nomes das famílias nas portas. Não haviam diretores, engenheiros,
chefes técnicos, policiais ou oficiais públicos. As agencias
governamentais estavam vazias e todos os arquivos tinham
desaparecido. Ninguém sabia onde ficava a administração
nacional. O Todo Poderoso decidiu então que ele finalmente
deveria ser cruel. Ele anunciou que todos os adultos estavam
obrigados a irem para as fábricas e escritórios. Aqueles que
ficassem em casa seriam alvos de disparos. Então, ele mesmo se
dirigiu para a estação de energia e ordenou que todos os soldados e
oficiais que estivessem em casa e que por ventura tivessem algo a ver
com energia, para que também se dirigissem para lá. Os oficiais
deram ordens, os soldados fizeram a supervisão e os trabalhadores
eletricitários correram de lá pra cá e fizeram exatamente o que os
oficiais lhes ordenaram. É claro que o resultado foi um terrível
caos e não houve eletricidade. Então, o Todo Poderoso convocou
novamente os oficiais e disse para os trabalhadores da estação
de energia: "Se dentro de meia hora não tiver eletricidade
vocês serão executados!" Observou-se então, que meia hora
depois já funcionava a eletricidade. O Todo Poderoso então disse,
“Viram seus bundos. Eu apenas precisei pressionar vocês"!. O
Todo Poderoso dirigiu-se então com os seus soldados ate os
trabalhadores de gás e fez exatamente a mesma coisa. No próximo
dia, no entanto, já não havia mais eletricidade. O Todo Poderoso
ficou furioso e quando ele e suas tropas especiais de execução
marcharam até a estação de eletricidade com o objetivo de liquidar
a todos, a estação estava vazia. Os trabalhadores se misturaram às
demais pessoas que trabalhavam nas outras fábricas e escritórios. O
Todo Poderoso ordenou então que os soldados reunissem milhares de
pessoas que estavam nas ruas e simplesmente disparassem nelas. Porém,
como o povo De Ali tinha sido sempre tão engenhoso e amável, sendo
sempre amigável com os soldados, a moral dos soldados estava muito
baixa e nenhum deles estava preparado para simplesmente reunir
milhares de pessoas que nada haviam feito contra eles e matá-los. O
Todo Poderoso deu ordens então para que as tropas especiais fossem
liquidadas. Os oficiais, no entanto, disseram que os soldados
já estavam infelizes e que poderia ocorrer um motim se milhares de
pessoas fossem assassinadas. E o Todo Poderoso recebeu milhares de
cartas de pessoas que ocupavam cargos poderosos em seu país e que
diziam: "Alteza Todo Poderoso! O Senhor já provou o seu dom
como marechal de campo e demonstrou a sua genialidade militar e nós
o congratulamos por suas inumeráveis e magníficas vitórias. Mas
agora, nós pedimos que o senhor retorne e que deixe o louco povo De
Ali com os seus próprios dispositivos. Eles estão nos custando
muito. Se tivermos que colocar um soldado com uma submetralhadora
atrás de cada trabalhador e ameaçar de atirar neles, além de
ter um engenheiro para dizer a eles o que fazer, então toda a
conquista não terá valido a pena em nada. Por favor, retorne porque
o nosso amado país já se deprivou muito e por tão longo tempo de
sua brilhante presença. Então, o Todo Poderoso arrumou seu
exército e ordenou que confiscassem todas as máquinas valiosas ou
objetos caros que pudessem transportar e retornou para casa
praguejando. “ mas nos fizemos tudo por eles!” ele rosnou.
“Aqueles covardes”. O que esses tolos irão fazer agora? Como
eles irão saber quem é engenheiro, quem é médico, quem é o
cabineiro? Sem certificados ou diplomas! Como eles irão determinar
quem irá viver nas casas e quem irá para os apartamentos, se
eles não podem provar o que pertence a quem? Como eles irão
gerenciar sem os direitos de propriedade, sem registros policiais,
sem carteiras de motoristas, sem títulos ou uniformes? Que confusão
eles vão ter! E tudo isso apenas porque eles não querem guerrear
conosco, aqueles covardes".
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